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25.08.22

Environment

Pesquisadores buscam descobrir qual o som da Amazônia


Como seria o som da Floresta Amazônica? Barulhento? Calmo? Com diferentes tons ou em mesmo ritmo? Pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale -Desenvolvimento Sustentável estão dedicados a esse estudo, que deverá fornecer informações importantes sobre a biodiversidade por meio do som que ela emite. Mais de 12 mil minutos da vida na Floresta Nacional de Carajás, localizada no sudeste do Pará, já foram gravados. Os primeiros resultados revelam características interessantes e curiosas. A pesquisa deverá contribuir para a conservação desse que é o maior bioma do Brasil, a Amazônia.

Para coletar os sons, aparelhos programados para gravar 24 horas foram fixados em árvores a aproximadamente dois metros do solo. Cada aparelho grava um minuto a cada uma hora. Depois esses sons são transformados em sonogramas e analisados em programas específicos de computador. Foi utilizado o gravador Audiomoth 1.0.0 e o R, uma linguagem de programação para computação estatística, para analisar os sons. A partir de então, a equipe formada por biólogos, com diferentes especialidades, como taxonomia e ecologia, faz a análise dessa paisagem sonora, com a identificação dos sons e da variabilidade acústica. 

“Com isso, será possível ter parâmetro para ações de conservação. Outras aplicações futuras desse estudo consistem em comparar os sistemas agroflorestais e também áreas em recuperação com as áreas base, onde os sons foram mapeados, para se ter uma ideia da biodiversidade presente nessas áreas e se alcançaram nível semelhante a um ambiente natural”, explica a pesquisadora do ITV e professora de Pós-Graduação em Zoologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Tereza Giannini. O trabalho conta com a parceria também do Museu Paraense Emílio Goeldi e apoio de pesquisador do Museu Naturalis de Leiden na Holanda. 

Segundo Tereza, os estudos já sinalizam para alguns resultados interessantes. As gravações revelam que o som da Amazônia se modifica ao longo do dia. Há um pico de sons diferentes e mais fortes por volta das 11h/12h. E às 17h, o som reduz bem. Já durante a noite, há intensa vocalização (emissão de sons) na floresta. Outro ponto é a similaridade entre os sons mesmo em 14 áreas distintas investigadas, que chegam a distar aproximadamente 1,5 km. “Ou seja, dentro da floresta, os sons produzidos pelos animais parecem ser mais ou menos homogêneos”, complementa a pesquisadora.

 Música hit de Carajás 

Como não poderia ser diferente também em se tratando de Amazônia, uma característica marcante dos sons é a diversidade de espécies. Os gravadores mostram essa variabilidade e indicam qual área tem mais sons diferentes. O estudo identifica também, em cada gravação, todas aves que estão vocalizando em cada área. Ou seja, nesse estudo, estão sendo identificadas as aves caso a caso. Dos 12 mil minutos gravados, já foram analisados 7 mil minutos, onde foram identificados os cantos de mais de 230 espécies distintas de aves. 

Há sons que chegam a ser o “hit” de Carajás (hit expressão em inglês que se refere a aquela música que é mais popular). “Tem alguns sons que são muito característicos. Quando a ouvimos, logo pensamos: ah estou em Carajás!”. Um dos exemplos é o canto do Lipaugus vociferans ou cricrió, que é uma das aves mais barulhentas e ouvidas em toda a Amazônia, sendo muitas vezes chamado de A Voz da Amazônia – embora ocorra também em parte da Mata Atlântica. A ave é típica em Carajás. Ouça Aqui

Os estudos também registraram o canto de espécies ameaçadas, como a Pyrilia vulturina, conhecida como a curica-urubu, que está classificada como vulnerável na lista de aves ameaçadas de extinção do Brasil. É endêmica do país, ocorrendo ao sul do Amazonas no Pará e Maranhão. Das gravações, apenas em um único ponto houve registro dela. “Têm algumas como a curica que não esperávamos ouvir, porque são espécies mais raras nas áreas. E foi uma satisfação poder ouvir”, vibra Tereza. Ouça Aqui

Pesquisa maior

Os trabalhos seguem ao longo dos anos de 2022 até 2023 e integram os estudos de fauna dentro de uma pesquisa ainda maior e mais completa sobre o Capital Natural da Floresta Nacional de Carajás. Esses estudos realizados pelo ITV, fazem um levantamento do estoque de recursos naturais da floresta, e como esse estoque contribui para a absorção do carbono, regulação do clima, proteção da água e da própria biodiversidade. Para este último item, o estudo envolve flora (com marcação de espécies, identificação por QR-Code e DNA) e fauna (também com coleta de abelhas, borboletas, além da vocalização das aves e análises dos sons). 

O projeto Capital Natural busca também compreender as interações da natureza entre flora e fauna. Muitos animais auxiliam na reprodução das plantas como os polinizadores e dispersores de sementes ou no combate de pragas ao se alimentar de certos insetos. "Conhecer a biodiversidade é fundamental para protegê-la e proteger essa biodiversidade significa proteger os benefícios que os seus ecossistemas oferecem para o bem-estar do ser humano, como a água, o alimento e a regulação do clima local", ressalta o Diretor do ITV, Guilherme Oliveira.

 

Media Relations Office - Vale
imprensa@vale.com

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